Anotações de um Cavaleiro Solitário

Anotações de um cavaleiro Solitário

Anotações de um Cavaleiro Solitário

Flavio Toledo

Torcendo com o inimigo

No último sábado, jogaço no Pacaembu. O meu São Paulo e o Corinthians. Lá fui eu. Ainda bem que não me vesti de Tricolor, pois no caminho do estádio só havia camisas alvinegras. Esclareceu-me um vendedor de cachaça: “Hoje é só nóis, cumpadi; tudo aqui é Curintcha; trucida única”. Pensei em voltar, mas, como diria o Joesley Batista ao batizar seu iate: “Why not?” (“Por que não?”). Nas imediações da arena, um negão reforçado me interpelou: “E o manto sagrado, irmão?”. Na cara dura, respondi: “Achei que o mando seria dos bambi; vim disfarçado, mano”. Mas, pra evitar interpretações mortais, adquiri a camisa do Timão; o maior tamanho sequer cobria a minha pança; meus braços se movimentavam como os do RoboCop. […] Na arquibancada, permaneci mais quieto que cachorro na canoa, mas, na hora dos gols inimigos, precisava ao menos me levantar e, bem aí nesses instantes, vários manos vieram me abraçar; uma irmandade contagiante, ­emocionante, muito bacana. Nunca vi tanta fraternidade no meu próprio time. De toda forma, continuarei cantando: “Doutor, eu não me engano, meu coração é Tricolor”.